Resumo:
Implementado na República Democrática do Congo (RDC) desde 2011, o Projeto Vozes da África visa capacitar pequenos produtores e agricultores familiares em tecnologias socioambientais sustentáveis, desenvolvidas pela Agroecologia, através da extensão universitária inovadora. O projeto decorre de um acordo de cooperação entre a Universidade Federal de Lavras (UFLA, Brasil), a Universidade Livre dos Países dos Grandes Lagos (ULPGL, Goma, RDC) e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Agronômicos (INERA, RDC), e replica, de certa forma, o Projeto Carrancas para agricultura familiar, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq, Brasil) e executado no Brasil pela UFLA. O Projeto Carrancas foi reconhecido em 2012 como um modelo de desenvolvimento econômico/socioambiental pelo Ministério do Meio Ambiente do Brasil.
Desafio:
Cerca de 70% da população da RDC vive em áreas rurais e depende fundamentalmente da agricultura familiar de subsistência, ainda que menos de 10% dos 80 milhões de hectares das terras aráveis do país sejam atualmente cultivadas. Ao mesmo tempo, devido ao cenário de instabilidade interna, a RDC não tem conseguido um desempenho agrícola suficiente para satisfazer sua demanda alimentar doméstica. Assim, o reforço do setor agrícola tem um papel fundamental na luta contra a pobreza e a fome, e no desenvolvimento socioeconômico mais amplo do país.
Por outro lado, a baixa produtividade das pequenas propriedades rurais assenta-se em práticas agrícolas pouco sustentáveis, que frequentemente desencadeiam desmatamentos, desertificação, perda de biodiversidade, assim como degradação de solos, fontes, mananciais e águas subterrâneas. Uma das causas dessa situação reside no difícil acesso das comunidades rurais ao conhecimento científico gerado nas universidades e nos centros de pesquisa. Quando ajustado às demandas locais, esse conhecimento permite alavancar o potencial agrícola naturalmente presente no país. Além disso, o fato dos pequenos produtores não serem organizados em cooperativas muitas vezes impossibilita o aproveitamento de benefícios coletivos, especialmente o armazenamento seguro da produção e as potenciais vantagens das economias de escala.
Solução:
O projeto de extensão universitária inovadora Vozes da África atua na capacitação de professores e técnicos congoleses em tecnologias socioambientais sustentáveis, desenvolvidas, testadas e aprovadas pela Agroecologia. Através do intercâmbio de profissionais dos dois países, o projeto propõe a utilização de práticas simples, viáveis e adequadas ao contexto local, que resultarão em melhor qualidade de vida para as pessoas e também na preservação do meio ambiente.
O fomento do desenvolvimento de uma agricultura economicamente viável, ecologicamente correta, socialmente justa e culturalmente adequada passa, em particular, pelo uso de recursos nativos, dispensando insumos e produtos de custos elevados. O projeto enfatiza a segurança alimentar, através da produção de alimentos básicos, juntamente com a geração de emprego e de renda dignos, que fixem as pessoas em suas propriedades, por menor que elas sejam, desencorajando assim o êxodo rural e a consequente formação de comunidades vulneráveis no entorno das grandes cidades.
Seguindo uma abordagem participativa, os conhecimentos da Agroecologia são transmitidos aos pequenos produtores e agricultores familiares, através de oficinas de capacitação realizadas nas próprias comunidades. As comunidades que se destacam no aprendizado são denominadas UEPs (Unidades Experimentais Participativas) e tornam-se pontos focais para a disseminação do conhecimento adquirido, em formato de espiral crescente.
Implementado como iniciativa-piloto em Goma (na província de Kivu do Norte), o Projeto Vozes da África foi também levado para a capital Kinshasa e a província de Maniema. No tocante aos resultados, até o final de 2013, o projeto tinha capacitado 60 professores e técnicos congoleses em Agroecologia, e estima-se que tenha atingido cerca de 3.500 agricultores familiares no entorno de Goma, Kinshasa e Kindu (na província de Maniema). Também foi fundada uma cooperativa agrícola de pequenos produtores rurais (a Cooperativa Agropastoril dos Grandes Lagos), em Butembo (na província de Kivu do Norte), e foram criadas três rádios para a transmissão de programas educacionais na província. Além disso, a ULPGL passou a desenvolver atividades de extensão universitária, enfocando a Agroecologia e a agricultura familiar.
Através das atividades de extensão universitária, os conhecimentos gerados na academia transcendem fronteiras, em diálogo participativo com as comunidades, resultando tanto na capacitação dos agricultores e na consequente melhoria da produtividade, quanto na formação de profissionais mais engajados com as realidades encontradas nas localidades. O Projeto Vozes da África está atualmente sendo replicado em Moçambique, numa colaboração entre a UFLA e a ONG brasileira Fraternidade sem Fronteiras.
A UFLA também está ativamente à procura de novas parcerias para a implementação de um projeto semelhante na região de Darfur (no Sudão).
Apoiada por:
Agência Brasileira de Cooperação (ABC), UFLA e governo da RDC
Agência de implementação
Pelo lado brasileiro: UFLA
Pelo lado congolês: ULPGL, INERA, Universidade de Kinshasa (UNIKIN), Ministério da Agricultura e Solidariedade Feminina (associação comunitária em Maniema)
Informações adicionais sobre a solução:
Pessoa de contato:
Brasil
Universidade Federal de Lavras, Departamento de Engenharia (DEG/UFLA)
Gilmar Tavares
Professor Titular Extensionista Voluntário
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